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“Senhora dos Afogados”
Espetáculo de São Paulo, com o texto homônimo de Nelson Rodrigues.
Depois do desastre futebolístico que não me deixou ver o espetáculo de dança canadense, acabei chegando ao apartamento onde tenho passado a semana – Gracias Fefa, minha amigona que me cedeu o ap – ajeitei as coisas e saí para ver o outro espetáculo para o qual havia comprado ingresso.
Cheguei com expectativas positivas, mas meio desconfiado... afinal, não é todo dia que se vê um texto do Nelson Rodrigues entremeado por músicas cantadas pelo atores... Isso mesmo: uma das peças míticas do Nelson com, inclusive, Chico Buarque cantado pelo elenco...
Segundo minhas humildes impressões, a peça tem lá suas qualidades... mas os seus defeitos aparecem um tanto mais, e a leitura final fica mais pra um espetáculo “não muito bom” do que o contrário.
Comento: a cenografia é muito bonita, limpa, eficaz, e a iluminação – para mim, um dos pontos mais altos do espetáculo – contribui ainda mais com o todo cenográfico. Os figurinos também são muito bonitos, bem pensados e bem feitos, com exceção do casaco do “noivo” de Moema, que parece ter saído diretamente de uma loja da “Gang” ou da “Hering”, sendo que a peça se passa a algumas centenas de anos...
Aliás, na sinopse oferecida pelo Porto Alegre em cena, era exaltado como qualidade o fato de o diretor ter situado a montagem não na época de Nelson, mas em tempos passados. Eu, particularmente, não vi motivo ou justificativa para isso... é como se fosse apenas um capricho do diretor, e não algo que pudesse estar descrito nas entrelinhas do texto – sim, joguem pedras, mas sou purista com relação à dramaturgia. Fala-se tanto em “Pós-Dramático”, e concordo em gênero, número e grau que o texto dramatúrgico, aquele escrito, não é indispensável a uma montagem: o texto se faz também na cena, veja-se Pina Bausch, Tadeusz Kantor, Bob Wilson e tantos outros... Agora, se o diretor opta por utilizar um texto, por que tentar inserir tantos elementos que não contribuem em nada e, ao contrário, que acabam até prejudicando a leitura do espectador? Sim, já sei, sou purista, mas levanto a bandeirinha com orgulho.
Aí, tem outras coisas: os atores em conjunto formam um coro bem harmônico, mas quando cantam sozinhos, constroem uma artificialidade, uma impostação elevada a tal grau que até as músicas do Chico Buarque ficam... bregas!? Outros nem impostando conseguem despertar algo: a voz fraquinha faz a gente ficar pensando qual seria o grau de parentesco com o diretor pra estarem no elenco – ai, que maldade... mas é verdade.
Mas nem tudo foi assim “causador de desilusão”: a luz e o figurino, em conjunto, têm um efeito fantástico... a gente passa a peça inteira achando que os figurinos são de uma cor, e ao final eles revelam-se totalmente diferentes... como se, no fundo, a gente tivesse sido enganado pelo diretor, da mesma forma que Nelson, em sua genialidade, nos faz acreditar em coisas e as destrói no final da peça.
Enfim... acho que estou sendo “concreto” demais para quem queria escrever um blog sobre impressões... mas foi inevitável levar a percepção para o lado mais racional ao ver a montagem.
Certamente eu recomendo que se veja o espetáculo... no outro dia, conversando com alguns alunos/amigos, eles tiveram as mesmas impressões que eu – alguns até foram mais cruéis do que eu, que de tempos em tempos fico me policiando para não cair em – como dizem alguns por aí – “aquela gente da academia que não gosta de nada”. Pelo contrário, gosto e muito, mas o bom senso sempre aparece em primeiro lugar. Como disse, meus alunos comentaram que não apreciaram o espetáculo, e aí fico pensando: ou estamos criando “monstrinhos”, ou estamos despertando neles um olhar apurado para aspectos da arte teatral; eu, particularmente, acredito mais na segunda opção.
Então: veja o espetáculo. É bonitinho, bem conduzido, bem iluminado e por vezes bem cantado. Como é bonita a casca de uma laranja... que pode até parecer bem saborosa. O problema é que maus atores, que se passam por maus cantores, não dão suco. E aí, por vezes, é melhor olhar a fruta, mas não esperar muito do sabor, que pode decepcionar.
E outra: depois dessa, prefiro ler denovo a peça do Nelson Rodrigues, ou ouvir o Chico em casa. Tem dvds bem baratinhos nas Lojas Americanas.
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